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Perspectivas Sociais dos Ex-assimilados em Moçambique no Período Pós-Colonial

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018 by Fernando Marcos Nhantumbo | 0 comentários

Perspectivas Sociais dos Ex-assimilados em Moçambique no  Período Pós-Colonial
Fernando Marcos Nhantumbo[1]
fernandomarcosnhantumbo@gmail.com
fernando.nhantumbo1265@gmail.com
RESUMO
O presente artigo tem como tema Perspectivas Sociais dos Ex-assimilados em Moçambique no Período pós-Colonial e se insere num contexto em que a História de Moçambique enfrenta novos questionamentos sobre o passado colonial e a sua influência no período pós-colonial. No caso de Moçambique colonial, o Estado Português, para garantir a promoção do integralismo imperial, a sustentabilidade e extensão da colonização do centro para a periferia, formou segundo DOMINGOS e PIRALTA (2013), uma classe social aculturada e fiel ao Estado Colonial de indivíduos nativos por excelência, transmissores e difusores da cultura europeia. Partindo do pressuposto de que, esta categoria social sempre gozou de um posicionamento estatual privilegiado na sociedade, com direitos e condições de vida avantajadas, procura-se ver até que ponto as transformações implementadas pelo Partido-Estado no pós-colonial num contexto isomorfista foram encaradas por aqueles. O interesse por este estudo resulta pelo facto de existirem poucos estudos que ilustrem as experiências sociais desta categoria social naquele período.  Para tal será privilegiada a  pesquisa qualitativa , elaboração do guião de entrevistas sobre a história de vida dos ex-assimilados.
Palavras-Chaves: assimilação, mobilidade social, isomorfismo social, Xiconhoca.

OS PRESSUPOSTOS PARA A FORMÇÃO DO ASSIMILADO
Os primórdios do processo da assimilação em Moçambique remontam da ideia da imposição de um modelo educacional no império colonial português quando em 1869, o governo colonial reconheceu a necessidade de se fazer algo em prol da educação[2] nas colónias (NEWITT, 1995), processo  que embora tivesse uma reduzida eficácia educativa (ZAMPARONI, 1998), culminou com a criação de “missões civilizadoras laicas”[3] a partir de 1913. Para a aquisição do estatuto de assimilado conforme afirma NEWITT (1995), era preciso demonstrar a cultura portuguesa, um certo nível de educação e este fenómeno se repercurtiu em toda a Africa Colonial onde os administradores coloniais esperavam que o ensino formasse o pessoal de que necessitavam para o preenchimento de escalões inferiores da burocracia, a fim de criar condições económicas, políticas, sociais e morais que permitissem aos europeus explorar o máximo possível os recursos do continente.
Com os pressupostos acima citados, a partir de 1917, uma pessoa podia requerer a isenção do contrato do trabalho e  de chibalo e era emitido o Alvará de Assimilação que confirmava o estatuto de assimilado,  podendo obter bilhete de identidade. Devia requerer em manuscrito, obter um atestado passado pelas autoridades locais comprovando abandono de usos e costumes da raça negra, e a certidão da instrução primária. A maioria dos mulatos descendentes de europeus identificavam-se como pertencendo a um segmento social específico dentro sociedade colonial (assimilados)  e lutavam pelos seus direitos cívicos através dos seus órgãos representativos. O alvará devia indicar: idade, estado civil, a filiação, a profissão, a naturalidade, a residência, fotografias do assimilado, além do nome e idade da mulher e de  filhos menores de 18 anos[4] que automaticamente passavam a usufruir da condição do marido e pai (NEWITT, 1995).
No caso concreto de Lourenço Marques, actual Maputo, segundo o entrevistado A.Chirindza que se tornou assimilado em 1956 na qualidade filho de um assimilado, a condição de acesso à esta categoria era cumulativamente concluir a quarta classe, saber ler e escrever, não ser polígamo, condições de sobrevivência comprovadas, ser limpo e asseado e todos estes requisitos eram confirmados pela administração local, entidade que emitia a certidão confirmativa. Assim, para se contornar o problema da poligamia perante o governo colonial, o futuro assimilado devia oficializar uma única esposa e as restantes eram consideradas amantes enquanto na prática, no contexto das tradições locais,  todas eram esposas e tinham os mesmos direitos perante o marido. Sobre as vantagens do assimilado, confirma o acesso livre a vários lugares destinados a brancos, não praticava trabalho forçado e  e sempre gozou da possibilidade de ter um emprego junto da administração pública.
Como tentativa colonial de aperfeiçoar os instrumentos legais de assimilação através da educação, em 1926, a Igreja foi de novo lhe confiada a função da gestão da educação missionária[5] tendo dividido na altura o ensino primário em rudimentar para os indígenas e elementar para os não-indígenas[6] (NEWITT, 1995). Assim, se oficializou a separação e instituição dos diferentes níveis de ensino[7], efectivamente baseada na cor da pele dos alunos, voltou a atribuir à Igreja um reconhecimento especial como instrumento da civilização e assim o ensino missionário voltou a ser regulamentado pelo Acordo Missionário anexado à Concordata de 1940 e pelo Estatuto Missionário de 1941 com o objectivo fundamental de proporcionar a educação rudimentar para os indígenas[8] (Ibid) confirmando a finalidade da educação iniciada com a colonização: o sistema de educação visava habilitar o indígena para o seu papel específico de trabalhador barato na economia colonial (HEDGES 1999).  Disto, compreende-se facilmente que o Estado Colonial Português desde cedo se interessou em proporcionar um modelo educacional ligado à igreja para controlar mentalmente o africano, através da religião e prepará-lo para o servilismo como atesta ZAMPARONI ao afirmar que ao indígena devia se dar instrução[9] de orientação prática ensinando ao preto a dignidade do trabalho (1998).
O processo de assimilação promovido pelo colonialismo português se desdobrava através dos contrastes da cor ou do acesso à educação e, nesse sentido, relacionava-se com os espaços onde se verificava a presença de colonos de origem europeia, numa altura em que as comunidades mestiças e de assimilados, cuja ambiguidade social foi traduzida numa ambiguidade existencial, eram um fiel da balança política visto que promoviam o integralismo imperial ou, em circunstâncias específicas, constituíam-se como ameaça ao sistema (...), estes indivíduos foram mediadores por excelência, transmissores de hábitos, práticas e costumes desde o centro para a periferia, mas igualmente no sentido inverso (DOMINGOS e PIRALTA, 2013).
 Desconstruindo a ideia da modernidade concebida pelos europeus para a Africa, MINDOSO (2017) afirma que o contexto da modernização das colónias portuguesas penalizava Moçambique por ter sido um processo excludente sobretudo na concepção do indivíduo e não definição da sua condição de cidadão ao destacar três categorias: colonos portugueses como agentes da colonização, assimilados que representavam ao mesmo tempo o lado moderno por terem acesso à escola e o tradicional porque tinham uma relação próxima com as tradições locais como produto da colonização e os indígenas como objectos da colonização. Disto atesta-se que entre os colonos portugueses e os indígenas, existia o assimilado no meio, que apesar de ser considerado cidadão português, não era de facto: (...) o assimilado era nativo, assim como o indígena, eles tinham uma ancestralidade africana (...) e assim, os usos e costumes eram um importante recurso para a construção da identidade deste assimilado (MINDOSO, 2017).
Assim, pode se concluir que a educação colonial  condicionou a mobilidade social dos nativos e se tornou um instrumento poderoso de aculturação para dividir mentalmente os indivíduos através da raça ou acesso à educação, oferecendo aos não-indígenas uma formação até certo ponto completa e penalizando os indígenas que se viram apenas preparados para atender as necessidades da colonização.
AS CARACTERÍSTICAS DO ASSIMILADO
Paralelamente, fruto da educação discriminatória virada para aculturação[10], a Lei Orgânica definia como assimilados aqueles que possuíssem conhecimentos da Língua Portuguesa e exercessem uma profissão ou alguma forma de actividade económica de auto-sustento ou trabalhasse para o Estado. Eram Europeus, indivíduos de raça negra ou dela descendente que cumulativamente tivesse abandonado inteiramente os usos e costumes daquela raça; que falasse, lesse e escrevesse a língua portuguesa, adotasse a monogamia, exercesse uma profissão compatível com a civilização europeia ou que obtido por meio lícito, rendimento que fosse suficiente para a sua alimentação, sustento, habitação, vestuário dele e de sua família. O alcance imediato da educação colonial era mais notável, com distinção do indígena ao assimilado visto que este, passava a pertencer uma pequena burguesia da terra que ainda não tinha os seus direitos ameaçados pela legislação e, ao menos, os seus membros mais proeminentes, particularmente os mestiços, gozavam de certa imunidade e, genericamente dos direitos de cidadania portuguesa. O possuidor de alvará[11] de assimilado, segundo ZAMPARONI, gozava de certas vantagens: isenção do trabalho compulsório, recrutamento militar, pagaria contribuição predial e não imposto de palhota, deixava de ser portador de chapa de identificação, teria acesso aos tribunais regulares e significava comulativamente garantir um futuro menos degradante para os filhos, conquistar os direitos mínimos de cidadania para evitar chibalo e ter uma vida menos insuportável (1998).
A ideia de ZAMPARONI (Ibid.) é reforçada por MINDOSO quando afirma que a mobilidade social era no sentido indígena-assimilado: deixava de usar caderneta indígena, afastando-se de todas as obrigações que sugeria (imposto e trabalho indígena) (2017). Os Entrevistados testemunham que a mobilidade social do indígena para o assimilado era da periferia para o centro. São oriundos das regiões periféricas de Lourenço Marques onde viveram experiências quase comuns: embora os pais fossem assimilados, frequentaram escolas rudimentares e mais tarde transitaram para escolas normais nas tais regiões ou em Lourenço Marques. A fronteira entre a escola rudimentar e a normal era feita por uma vedação ou por vezes uma rua. Era normal crianças da mesma família frequentarem escolas diferentes mas no intervalo brincarem juntas e no fim do dia desaguavam na mesma casa. Os alunos não-indígenas que geralmente eram de pais incógnitos, geralmente de colonos portugueses, beneficiavam-se de uma bolsa, denominada caixa escolar que-lhes garantia o lanche, material escolar e uma bata castanha e diferindo dos assilimilados que trajavam bata branca, custeavam os estudos e traziam lanche pessoal visto que os pais tinha poder económico. O posicionamento destes entrevistados é secundado por MINDOSO (2017) ao afirmar que os mestiços que em contrapartida tiravam vantagens da sua cor e automaticamente eram assimilados, gozavam de vantagens na competição pelas oportunidades educacionais visto que a igreja católica custeava os estudos e concedia bolsas de estudo para as cidades mais importantes de Moçambique ou mesmo para o estrangeiro para que esta categoria garantisse no futuro a difusão da civilização portuguesa do centro para a periferia. A condição para o acesso a todos os subsistemas de ensino colonial era a adesão à religião católica, independentemente da religião anterior do aluno.
Genericamente, o assimilado era o indivíduo negro, moçambicano, que tinha hábitos e costumes considerados civilizados ou europeizados e bem posicionado socialmente na estrutura social do Moçambique-colonial, exercendo profissões privilegiadas embora hierarquicamente inferiores perante o governo colonial. Foi possível constatar que alguns ex-assimilados vivem actualmente em condições deploráveis. O passado sócio-económico familiar assim como o critério que ditou a adesão do indivíduo ao processo de assimilação condicionou a robustez social e económica deste antes e depois da independência nacional.
O ASSIMILADO PERANTE O ISOMORFISMO SOCIAL NO PÓS-COLONIAL
Segundo MOREIRA (1997), na época colonial, os assimilados gozavam a sua condição privilegiada  de homens “educados”, civilizados e pertenciam ao mundo dos brancos embora pela raça pertencessem o dos negros e porque queriam ser iguais aos brancos precisavam de se legitimar politicamente como representantes de negros. No período pós-colonial, o governo moçambicano defendeu a equalização da condição cidadã de todos os moçambicanos independentemente da sua origem social e esta visão sugeria a eliminação de elementos particularistas de identificação social (MINDOSO 2017). Assim,  o Partido-Estado promovia isomorfismo social e o ex-assimilado era parte deste processo embora era visto como símbolo de sobeja e da vida fácil, visto que no passado aceitou a assimilação e por via disso passou a ter acesso às benesses da sociedade colonial e assim era visto como um indivíduo à margem da revolução (BARATA, 2015).
O processo de assimilação iniciado no tempo colonial reflectiu-se continuamente nas sociedades africanas no período pos-colonial, na  medida em que a integração e mobilidade social dependia de vários factores, entre os quais se destaca a origem da classe, não poucas vezes ao tom da cor da pele. As elites africanas escolarizadas, integraram-se na vida urbana de forma diferente de uma imigração laboral dirigida a sectores laborais como é o caso do serviço doméstico. A língua, como um legado colonial, tornou-se um mecanismo de aproximação, de um recurso operativo no quotidiano; é verdade que o grau da educação e a pertença de classe recriaram também situações de descriminação e desigualdade na sociedade pós-colonial (DOMINGOS e PIRALTA, 2013). A  herança escolar possibilitou parte desta categoria social a se constituir elite dirigente e continuamente teve mais possibilidade de acesso à escola e por via disso chegar a níveis superiores embora o sistema de ensino moçambicano deixou de ser segregado em rudimentar ou oficial, se tornando o principal meio para construção do homem novo (MINDOSO, 2017).
Constata-se de facto, que todos os ex-assimilados entrevistados confirmam que individualmente, como fruto da herança escolar colonial, no momento da independencia exerceram normalmente as suas profissões numa altura em que na óptica de (Ibid.): a  Revolução Moçambicana contava  com uma máquina burocrática e precisava de funcionários qualificados (2017). A necessidade imediata de quadros qualificados depois da independência superava a oferta numa altura em que o ensino ainda não tinha formado quadros. As vagas de emprego anunciadas no Jornal Notícias entre 1975 e 1977 demonstram o Estado precisava de candidatos com segundo ano do liceu, portanto um nível escolar do tempo colonial e apenas os ex-assimilados eram elegíveis para o mercado de trabalho.
Os entrevistados afirmam que ser assimilado no passado foi uma imposição colonial e depois da independência continuaram a gozar de algumas vantagens da educação adquirida no contexto colonial: explicaram aos outros moçambicanos o momento da revolução, dirigiram a administração pública mediante a retirada colonial, as categorias de indígena e de assimilado, deixaram de existir. Alguns ex-assimilados confirmam o isomorfismo social implementado pelo partido-estado depois da independência visto que  foram úteis na construção do país no contexto pós-colonial, a colaboração com o governo colonial e o comportamento de cada indivíduo  determinava a “perseguição” pelo sistema, por exemplo: a assimilação de elementos culturais não moçambicanos era visto como uma atitude reacionária que obstruía o caminho da revolução (BARATA, 2015).
Apreciadas as edições do Jornal Notícias e a Revista Tempo publicadas entre 1975 a 1978 constata-se que o Partido-Estado não se preocupava muito com a figura do assimilado. Os que sentiram-se incomodados com o processo revolucionário, abandonaram o país e grande parte desta categoria social se conformou com a revolução embora fossem conotados  com o bem-estar e prestígio da era colonial, bem como todos aqueles que a eles aspiravam e que viam na revolução, portanto, um meio para isso (...) tornavam-se contra-revolucionários (MINDOSO, 2017). O Partido-Estado  tinha como inimigo todo aquele cidadão que tinha comportamento anti-social ou vícios considerados herança do colonialismo conforme atesta o comentário de (Ibid.):  ...descender de uma família assimilada ou portar caracterísiticas que remetessem à condição de assimilado, poderia colocar o indivíduo na condição de “infiltrado”, ameaça à revolução ( 2017).
Nos finais de 1976, o Jornal Notícias começou a difundir o cartum de xiconhoca e segundo (Ibidem.,2017), a figura de xiconhoca nos oferece pistas para compreendermos o lugar que o Estado e a “nova sociedade” reservaram para o ex-assimilado. O xiconhoca reperesentava aqueles moçambicanos que no passado colonial desfrutavam de determinados “privilégios” (escolares, simbólicos, económicos). Portanto, entende-se que a figura do assimilado foi produzida no tempo colonial e que ao continuar presente no pós-colonial sofreu uma transfiguração social ao ser depositária de todos os males à revoluçao moçambicana porque tinha hábitos e costumes considerados europeizados.
Na administração pública,  a figura do ex-assimilado se enquadrava no xiconhoca[12] burocrata, reperesentação do funcionário marcado pelos vícios (e ideias) praticados no no tempo colonial; com a independência, este funcionário foi alçado às novas funções, porém seus hábitos profissionais constituídos por anos de actução na administração colonial eram latentes. O xiconhoca burocrata tinha um nível de instrução acima da média, essa condição lhe permitia ter melhor compreensão da nova realidade moçambicana. A pesar de se reconhecer a importância do seu trabalho na administração, não assimilou os novos procedimentos profissionais perante a nova realidade política e social do país; como herança colonial desprezava a população (BARATA, 2015). A representação que o movimento revolucionário tinha do ex-assimilado era a de um indivíduo que não se conformava com as mudanças que estavam ocorrendo em Moçambique (MINDOSO, 2017)
Disto pode-se deduzir que o Partido-Estado trazia consigo a proposta de implantar uma revolução modernizadora da sociedade moçambicana que olhava para equalização social e civilização, todavia, criava incertezas aos ex-assimilados enquanto categoria social visto que sempre eram desconfiados na sua relação com outros moçambicanos. Para se compreender as experiências sociais dos ex-assimilados perante o isomorfismo social no período pós-colonial aprecie-se o comentário do Sr Mahumane:
Tornei-me assimilado nos finais da década 60 quando o governo colonial massificou o acesso a esta categoria social...bastava ter bilhete de identidade, saber ler e escrever e assim podia continuar os estudos, infelizmente mais tarde sofri perseguição por parte da PIDE e depois da independência, a minha expectativa era trabalhar e viver livremente como qualquer cidadão, porém,  fui alvo de perseguição dos grupos de vigilância, grupos dinamizadores e SNASP. Fui enviado para campos de reeducação e depois viví numa aldeia comunal para ser continuamente vigiado porque no passado colonial fui militar e assim era apelidado de um “comprometido” com o Estado colonial e muitas vezes fui obrigado a jurar em público o meu cometimento com o colonialismo.
A experiência social do Sr. Mahumane é secundada pelo Sr. Amado quando afirma:
Minha avó era indiana e casou-se com um “preto” e por via disso me tornei assimilado. O que descriminava as categorias sociais no tempo colonial era a raça e separação imposta pelo colonialismo...graças ao estatutto de assimilado consegui estudar, cumpri o serviço militar e mais tarde me tornei primeiro aspirante no Concelho Munincipal de Porto Amelia ...depois da independência mantive o meu emprego, mas as minhas perspectivas sociais de me ver valorizado se tornaram uma desilusã...sempre fui conotado como comprometido com valores coloniais dada a cor da minha pele e não só...houve muita perseguição e muitos dos ex-assimilados acabaram fugindo para fora do país...
Pode se concluir que depois da independência, os ex-assimilados cuja origem no passado foram a educação  colonial, casamentos, aculturaçao e profissões, viram as suas perspectivas sociais de cidadãos livres defraudadas no contexto isomorfista social visto que foram  politicamente alvos de combate, eram indesejáveis embora se reconhecesse a utilidade destes para os novos desafios da revolução. Dada a sua condição escolar, profissional e linguística herdada do tempo colonial, alguns viram a sua condição sócio-económica ex-colonial reproduzida ao ocupar as vagas deixadas pelos europeus .
CONCLUSÃO
Abandonar inteiramente os hábitos e costumes nativos, falar, ler e escrever a língua portuguesa, adopção da monogamia, exercício de uma profissão e uma habitação condígna, eram alguns dos pressupostos para se tornar assimilado no tempo colonial. Com base nestes requisitos, o requerente podia obter um alvará, documento comprovativo da qualidade de assimilado contendo dados pessoais do assimilado, esposa e filhos.
O assimilado se distinguia do comum da raça negra por ser europeu ou dela descendente e em parte como resultado da aculturação, indivíduo da raça negra escolarizado, civilizado e comulativamente herdado a nacionalidade portuguesa.
No período pós-colonial, perante o isomorfismo social, o assimilado se tornou um agente social que contribuiu para a construção do novo Moçambique a apartir das suas experiências sociais herdadas do época colonial embora contra as suas perspectivas, a sua imagem foi ressignificada como inimigo do povo dada a ligação histórica com o passado colonial e assim, grande parte desta categoria social não conseguiu manter ou superar a condição anterior enqunto que outra parte deste grupo social assegurou a sua condição sócio-económica avantajada na sociedade.
BIBLIOGRAFIA
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2. FONTES SECUNDÁRIAS
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BARATA, Jorge Manuel Rodrigues Mendes. Xiconhoca, o inimigo: a denúncia de todos os males à Revolução Moçambicana por meio do cartum. Londrina, 2015.140p.
DOMINGOS, Nuno e PERALTA, Elsa. Cidade e Império: Dinâmicas Coloniais e Reconfigurações Pós-Coloniais. Lisboa, 1976. 50p.
HABTE,Aklilu e WAGAW, Teshome. Educação e Mudança Social. In: MAZRUI A.Ali. História Geral de Africa Volume VIII: Africa desde 1935. Brasília: UNESCO, 2010.1239p.
HEDGES, David (coord). História de Moçambique Volume II: Moçambique no Auge do Colonialismo, 1930-1965. 2ᵃ edição, Maputo, 1999.295p.
JORNAL NOTÍCIAS, 13 de agosto de 1976.
MINDOSO, André Victorino. Os assimilados de Moçambique: da situação colonial à experiência socialista. Curitiba, 2017. 254p. (Tese de doutoramento)
MOREIRA, José. Os assimilados, João Albasini e as eleições 1900-1922. Edição AHM, Maputo, 1997. 224p.
NEWITT, Malyn. História de Moçambique. Publicações Europa-América. Mira-Sintra-Men Martins, 1995.477p.
REVISTA TEMPO nᵒs 314, 350, 352, 353, 359, 360 e 371 de 1977.
ZAMPARONI, Valdemir Donizette. Entre Narros-Mulungos: Colonialismo e Paisagem Social em Lourenço-Marques c1890-c1940. São Paulo





[1] Mestre em Ciências de Educação/Ensino de História. Escola Secundária Aeroporto. Membro da Oficina de História de Moçambique.
[2] É o mecanismo através do qual uma sociedade produz os conhecimentos necessários para a sua sobrevivência e a sua subsistência transmitindo-os de geração em geração, essencialmente pela instrução dos jovens, esta educação pode ocorrer de forma não institucionalizada (HABTE e WAGAW, 2010).
[3] Criada pela Lei 233 de 22 de Novembro de 1913, suprida mais tarde pelo decreto 12336 de Setembro de 1926 (Ibid).
[4]O sublinhado é todo meu. Infere-se que maiores de 18 anos perdiam o estatuto de assimilado por lei caso não reunissem os requisitos para o efeito.
[5] Por Decreto de 13 de Outubro de 1926.
[6] Regulamentos de 1929.
[7] Foram criadas escolas rudimentares para os indígenas e Liceus para os brancos e pouquíssimos mulatos e indianos; Ensino Primário Elementar: destinado aos não-indígenas com o objectivo de dotar crianças de cultura geral e prepará-los para níveis superiores (ZAMPARONI, 19 80).
[8] A Portaria Provincial 317 de 9 de Janeiro de 1917 considerou como indígena o indivíduo de raça negra ou dela descendente que pela sua ilustração e costumes se não distingue do comum daquela raça (Ibid).
[9] Em 1935, o Governador Jose Cabral promoveu reformas na educação destacando-se 5 categorias: Ensino Secundário para não-indígenas gerido pelo Estado; Ensino Secundário Normal para Indígenas (formação de Professores) Oficial e Missionário; Ensino Profissional Oficial e Missionário; Ensino Primário Rudimentar destinado aos indígenas, oficial, Particular e missionário e Ensino primário Elementar, Oficial, Particular ou Missionário (ZAMPARONI, 1998).
[10] É um processo de troca, fusão de culturas como resultado do contacto prolongado ou permanente onde duas culturas permutam entre si, seus valores, conhecimentos, normas, hábitos, costumes, símbolos. Neste processo, uma das culturas é doadora e a outra é receptora. A aculturação ocorre mediante 3 possibilidades: livre, forçada e planeada (ASSIS e NEPOMUCENO, 2008).
[11] Entre 1919-1922, dos 242 alvarás apenas 120 eram de negros, havia fraca adesão e a maior parte de alvarás foram obtidos por funcionários públicos cuja condição de acesso era ser assimilado (ibidem.).
[12] Xiconhocas são os boateiros, os intriguistas, os preguiçosos, os esbanjadores, os indisciplinados, os bêbados, os tribalistas, os racistas e todos aqueles que criam confusão no seio do povo (NOTÍCIAS 13.8.1976, p.2)



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