O presente trabalho com o tema: A difusão das culturas de rendimento em Moçambique: O impacto do coqueiro no ordenamento territorial e social em Massinga, parte do postulado de que o coqueiro terá condicionado o ordenamento territorial e social em Massinga.
A discussão é desenvolvida em dois capítulos, antecedidos pela apresentação das características geográficas e históricas do distrito.
No primeiro capítulo é feita a localização geográfica do distrito e são abordadas também as características físico-geogáficas que de certa maneira condicionam as condições climáticas do distrito. Refere-se também ao facto de a evolução administrativa caracterizada pelas constantes alterações de delimitação territorial do distrito durante a época colonial, influenciar de certa forma os dados da densidade populacional que se apresenta oscilatória neste distrito.
No segundo capítulo analisa-se o contexto da difusão das culturas de rendimento em Moçambique, as principais legislações que legitimaram a generalização das culturas obrigatórias e exploração da mão-de-obra a partir de 1930. Esta análise é precedida de caracterização de uma economia colonial de capitais não-portugueses e acompanhada de uma série de legislações que espelham iniciativas de descentralização administrativa como forma de dar volta à crise que Portugal enfrentava antes da mudança de atitude em relação às colónias na primeira metade do século XX. São arrolados ainda neste capítulo as diferentes culturas de rendimento implementadas em Moçambique por Portugal com forte intervenção de capitais portugueses e exploração intensiva da mão-de-obra local.
E é no terceiro capítulo onde se apresentam as generalidades sobre o coqueiro, o seu valor económico, o seu cultivo no distrito de Massinga e analisa – se o seu impacto no ordenamento territorial e social no mesmo território. A partir de recolha de informações às populações locais foi possível apurar as condições concretas que impulsionaram o cultivo do coqueiro no distrito e por conseguinte o condicionamento na morfologia na ocupação de espaços na zona costeira.
No quarto e último capítulo faz – se a abordagem da aplicação didáctica do tema no ensino de História no âmbito da História local do distrito de Massinga e nos programas do ensino básico e secundário geral em Moçambique. É dada a relevância às fontes locais para reconstituição da história assim como é enaltecida a importância e aplicabilidade do tema em diferentes níveis de ensino de História em Moçambique.
Para elaboração deste trabalho foram programadas três etapas de trabalho: A primeira etapa consistiu no trabalho de gabinete, concretizada pela recolha de dados no Arquivo Histórico de Moçambique, nas bibliotecas da Universidade Eduardo Mondlane, Universidade Pedagógica, da Assembleia da República, do Instituto Nacional de Algodão, do Ministério de Administração Estatal e Instituto Nacional de Estatística. A segunda etapa consistiu no trabalho de campo, cuja pesquisa ocorreu no Governo distrital de Massinga, Serviços económicos de Massinga, postos administrativos do mesmo distrito e locais considerados estratégicos para conferir a fiabilidade dos resultados pretendidos. Nestes locais, foram também realizadas entrevistas semi-estruturadas com líderes comunitários e camponeses para enriquecimento do trabalho. Para efeitos de consulta, a versão completa do presente trabalho foi depositada no Centro de Recursos da Universidade Pedagógica em Maputo.
This article with the theme: cultures of income in Mozambique: the impact of coconut in spatial and social massinga district, part of the premise that the coconut have conditioned the spatial and social massinga district.
The discussion is developed into two chapters, preceded by the presentation of geographical and historical characteristics of district. In the first chapter is made the geographical location of the district and are addressed also the physico-geogáficas which govern the climatic conditions of the district.
Refers also to the fact that administrative developments characterized by constant change of territorial demarcation district during colonial influence somewhat data density that is oscillating in this district.
In the second chapter examines the context of the dissemination of cultures of income in Mozambique, the main laws that legitimaram the generalisation of cultures compulsory and exploitation of manpower from 1930.
This analysis is preceded by characterization of a colonial economy equity-Portuguese and accompanied by a series of laws that mirror administrative decentralization initiatives as a way of giving back to the crisis in Portugal faced before the change of attitude towards colonies in the first half of the 20th century. Are arrolados still in this chapter the different cultures of income implemented in Mozambique by Portugal with strong intervention of capital intensive Portuguese and exploitation of the workforce location.
And it is in the third chapter where present general information on coconut, its economic value, its cultivation in the District of massinga district and analyzes – if your impact on spatial and social within the same territory. From information gathering to local populations be concrete conditions that drove the cultivation of coconut in the district and therefore the conditioning morphology in occupation of spaces in the coastal zone.
In the fourth and final chapter does – if the approach of implementing educational theme in teaching History in the context of the local history of the District of massinga district and in the programmes of primary and secondary education in Mozambique.
For the preparation of this work were scheduled three steps: the first step consisted in Cabinet, implemented by the collection of data in the file History of Mozambique, in the libraries of the University Eduardo Mondlane, Pedagogical University, Assembly of the Republic, the National Institute of cotton, the Ministry of State Administration and the National Statistical Institute.
The second step consisted in fieldwork, whose search occurred in the Government District massinga district, economic Services massinga district, administrative posts even district and local considered strategic to check the reliability of expected results.
These locations were also performed semi-structured interviews with community leaders and peasants to enrichment of the work. For the purposes of consultation, the full version of this work was deposited in the Centre of Pedagogical University resources in Maputo.
No âmbito de História Local.
A Historiografia colonial sobre Moçambique deixou uma “base fragilíssima em termos de estrutura de fontes [que] apenas é rica em discrições etnográficas, memória de viajantes e legislação colonial…” e Massinga não foi uma excepção.
O tema em estudo ao reconstituir factos que interessam à própria História do distrito de Massinga e à História de Moçambique pode possibilitar a inserção do aluno no passado da comunidade onde vive, visto que, ao interrogar as fontes locais encontrará referências em pessoas mais velhas, lugares conhecidos, identificação dos vestígios do passado no distrito, permitindo uma compreensão empática dos grupos sociais que fizeram parte de diferentes momentos da história, desenvolvendo no aluno habilidades e competências de pesquisa. O ensino deste tema, vai desenvolver nos alunos daquela região, “um espírito de observação, análise de situações e contribuir decisivamente para iniciação ao método da pesquisa histórica” .
A título de exemplo, o autor percorreu a região do Posto administrativo de Guma e notou que na povoação do Rio das Pedras, situa – se uma antiga exploração agrícola do Sr. Ferreira dentro da qual funciona a Escola Primária e Completa Rio das Pedras . Portanto, estamos perante um exemplo concreto em que ainda há referências e vestígios do passado para reconstituição da história local, fonte para enriquecimento do currículo local.
Para se perceber a importância da história local na reconstituição do passado e introdução à investigação, aprecie – se o seguinte comentário:
A História local prova a autenticidade das fontes e possibilita uma sólida iniciação à História uma vez que, em situações em que o aluno da tenra idade é confrontado com acontecimentos de regiões muito distantes… leva a que este considere esta ciência como uma mera invenção… Assim, para o caso particular da História, a comunidade em que o aluno está inserido constitui a base material e conreta, [sic] aspecto que possibilita a confirmação dos factos apreendidos na escola, sempre que o aluno desejar(Pedro, p. 88).
Partindo deste comentário pode – se deduzir que no caso concreto do distrito de Massinga, através da abordagem deste tema, os alunos poderão beneficiar – se das fontes orais locais para fazer novas perguntas à própria História.
No ensino básico, a disciplina de História deu lugar às Ciências Sociais. Analisado o programa curricular da 4ª e 5ª classes, apreende-se que o mesmo visa dotar o aluno de capacidades de compreender o homem no seu meio, suas relações com o seu passado, com base na recolha de informações na comunidade.
Só com a valorização do seu meio, o aluno poderá socializar-se com as transformações económicas, sociais e políticas da sua localidade. No caso concreto de Massinga, no âmbito da História local, na ordem do saber e saber ser vão adquirir e consolidar conhecimentos claros e precisos sobre História deste distrito; na ordem de competências e do saber fazer, os alunos deverão saber organizar seus conhecimentos e estabelecer comparações com as realidades observadas e com outras mais longínquas .
Na ordem do saber estar deverão compreender a herança histórica rica em cultura diversificada e riquezas económicas de Massinga para participarem no desenvolvimento deste distrito.
Assim sendo, na 4ª classe, unidade 3, ao fazer identificação das características geográficas da província, poder-se-á particularizar características do distrito e da localidade.
Na 5ª classe, 2ª unidade ao falar-se da noção do colonialismo e suas dimensões económicas, sócio-culturais e políticas, pode-se também particularizar no caso de Massinga, analisando relações que os portugueses estabeleceram com as populações locais. Na 3ª unidade ao abordar-se o conceito de Moçambique independente, pode-se também estudar as actividades socio-económicas e culturais das populações de Massinga antes e depois da proclamação da Independência Nacional.
4.1.2. No Ensino Secundário Geral
Na 10ª classe, tendo em conta que alguns objectivos do programa visam formar o aluno para que seja capaz de: Explicar o colonialismo e relacioná – lo com o subdesenvolvimento dos países africanos, caracterizar a actuação colonial em Moçambique nos âmbitos da administração colonial, exploração de recursos, trabalho forçado e relacionar a crise geral do colonialismo entre as duas guerras , o presente trabalho tem aplicabilidade na unidade 1 quando – se analisam as formas de exploração colonial, na unidade 2 quando se caracteriza a Crise Económica Mundial de 1929 – 1933, Moçambique durante os anos 1920-1930, as consequências da Crise Económica Mundial para África e Moçambique e quando se aborda as características do Estado novo de Salazar em Portugal e na unidade 3 quando se fala do Papel económico de Moçambique .
Na 12ª classe , ao falar-se da Dominação colonial em Moçambique a partir de 1930, das conjunturas económicas e marcos de viragem assim como medidas e repercussões da política colonial nesta fase, o presente trabalho sobretudo no seu capítulo II, contribui com alguma informação histórica ao identificar o Duplo poder do Estado colonial-companhias até 1930.
Explicando o Nacionalismo Económico de Salazar, Fascismo Português e exploração dos recursos de Moçambique, permite fazer uma análise global das repercussões de exploração colonial.
De uma forma geral, o presente trabalho tem inserção nos programas de ensino em todos os conteúdos que retratam as formas de exploração do colonialismo Português em Moçambique no quadro da economia de plantações, exploração da economia de subsistência, ao subordiná-la aos interesses da economia capitalista.
Acredita-se também que no ensino superior este trabalho pode subsidiar com algumas informações para futuras investigações. A aplicabilidade didáctica deste tema no ensino de História depende do interesse e criatividade do professor em qualquer nível de ensino.
Portugal começou a interessar-se pela copra em 1940, quando foram aprovadas quotas de exploração em 1939. O cultivo do coqueiro em Massinga em regime industrial foi feito por colonos para responderem com eficácia os projectos industriais de Moçambique para industrialização dos produtos do coqueiro em Inhambane. Por outro lado, a capitalização dos colonos pelo Governo colonial satisfazia em parte a crença de que o indígena não era digno de ser chamado agricultor, apenas devia canalizar suas colheitas nos postos de venda.
A região de Massinga foi considerada ideal para difusão do coqueiro por reunir condições agro-ecológicas favoráveis na zona costeira caracterizadas por climas quentes e húmidos com precipitações médias anuais de 1200 mm.
O fim das explorações agrícolas e o facto de serem zonas próprias para agricultura precipitou a ocupação desenfreada dos espaços, o que condicionou por sua vez o ordenamento territorial e social em Massinga. O coqueiro como fonte de rendimento principal para os habitantes, tornou-se fonte de disputas e, por conseguinte, uma referência ou marco para reclamar a violação ou não de um espaço. Por outro lado, o coqueiro tornou – se um elemento discriminatório para famílias vindas de outros pontos, visto que sem acordo prévio com as famílias locais não há possível aproveitamento da terra e seus bens.
O coqueiro condiciona a convivência social, visto que tudo depende dos moldes de partilha dos coqueiros entre os membros da mesma família e também, depende do respeito que se tem pelos coqueiros de outras famílias para se evitar conflitos.
Os conflitos resultam das ocupações feitas durante a guerra civil que com o seu fim, reaparecem antigos donos e expulsam actuais ocupantes sem recursos para abandonarem os espaços ou adquirirem outras terras.
Desta maneira, o facto do coqueiro ser uma cultura permanente condicionou o ordenamento territorial e social em Massinga porque, primeiramente os colonos ocupavam maior parte das terras favoráveis ao cultivo do coqueiro. Com o fim das explorações agrícolas, as comunidades locais retomaram as terras e condicionaram a ocupação conforme os vínculos de linhagem. O nível de convivência social é determinado pelo comportamento das pessoas em relações aos coqueiros.
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