Prof. Fernando Marcos Nhantumbo

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A difusão das culturas de rendimento em Moçambique

sábado, 15 de maio de 2010 by Fernando Marcos Nhantumbo | 0 comentários
O impacto do coqueiro no ordenamento territorial e social em Massinga

Por:

Fernando Marcos Nhantumbo

(Tese de Licenciatura em Ensino de História apresentada na UP-Maputo)

Resumo

O presente trabalho com o tema: A difusão das culturas de rendimento em Moçambique: O impacto do coqueiro no ordenamento territorial e social em Massinga, parte do postulado de que o coqueiro terá condicionado o ordenamento territorial e social em Massinga.

A discussão é desenvolvida em dois capítulos, antecedidos pela apresentação das características geográficas e históricas do distrito.
No primeiro capítulo é feita a localização geográfica do distrito e são abordadas também as características físico-geogáficas que de certa maneira condicionam as condições climáticas do distrito. Refere-se também ao facto de a evolução administrativa caracterizada pelas constantes alterações de delimitação territorial do distrito durante a época colonial, influenciar de certa forma os dados da densidade populacional que se apresenta oscilatória neste distrito.

No segundo capítulo analisa-se o contexto da difusão das culturas de rendimento em Moçambique, as principais legislações que legitimaram a generalização das culturas obrigatórias e exploração da mão-de-obra a partir de 1930. Esta análise é precedida de caracterização de uma economia colonial de capitais não-portugueses e acompanhada de uma série de legislações que espelham iniciativas de descentralização administrativa como forma de dar volta à crise que Portugal enfrentava antes da mudança de atitude em relação às colónias na primeira metade do século XX. São arrolados ainda neste capítulo as diferentes culturas de rendimento implementadas em Moçambique por Portugal com forte intervenção de capitais portugueses e exploração intensiva da mão-de-obra local.

E é no terceiro capítulo onde se apresentam as generalidades sobre o coqueiro, o seu valor económico, o seu cultivo no distrito de Massinga e analisa – se o seu impacto no ordenamento territorial e social no mesmo território. A partir de recolha de informações às populações locais foi possível apurar as condições concretas que impulsionaram o cultivo do coqueiro no distrito e por conseguinte o condicionamento na morfologia na ocupação de espaços na zona costeira.


No quarto e último capítulo faz – se a abordagem da aplicação didáctica do tema no ensino de História no âmbito da História local do distrito de Massinga e nos programas do ensino básico e secundário geral em Moçambique. É dada a relevância às fontes locais para reconstituição da história assim como é enaltecida a importância e aplicabilidade do tema em diferentes níveis de ensino de História em Moçambique.
Para elaboração deste trabalho foram programadas três etapas de trabalho: A primeira etapa consistiu no trabalho de gabinete, concretizada pela recolha de dados no Arquivo Histórico de Moçambique, nas bibliotecas da Universidade Eduardo Mondlane, Universidade Pedagógica, da Assembleia da República, do Instituto Nacional de Algodão, do Ministério de Administração Estatal e Instituto Nacional de Estatística. A segunda etapa consistiu no trabalho de campo, cuja pesquisa ocorreu no Governo distrital de Massinga, Serviços económicos de Massinga, postos administrativos do mesmo distrito e locais considerados estratégicos para conferir a fiabilidade dos resultados pretendidos. Nestes locais, foram também realizadas entrevistas semi-estruturadas com líderes comunitários e camponeses para enriquecimento do trabalho. Para efeitos de consulta, a versão completa do presente trabalho foi depositada no Centro de Recursos da Universidade Pedagógica em Maputo.



Abstract

This article with the theme: cultures of income in Mozambique: the impact of coconut in spatial and social massinga district, part of the premise that the coconut have conditioned the spatial and social massinga district.
The discussion is developed into two chapters, preceded by the presentation of geographical and historical characteristics of district. In the first chapter is made the geographical location of the district and are addressed also the physico-geogáficas which govern the climatic conditions of the district.
Refers also to the fact that administrative developments characterized by constant change of territorial demarcation district during colonial influence somewhat data density that is oscillating in this district.
In the second chapter examines the context of the dissemination of cultures of income in Mozambique, the main laws that legitimaram the generalisation of cultures compulsory and exploitation of manpower from 1930.
This analysis is preceded by characterization of a colonial economy equity-Portuguese and accompanied by a series of laws that mirror administrative decentralization initiatives as a way of giving back to the crisis in Portugal faced before the change of attitude towards colonies in the first half of the 20th century. Are arrolados still in this chapter the different cultures of income implemented in Mozambique by Portugal with strong intervention of capital intensive Portuguese and exploitation of the workforce location.
And it is in the third chapter where present general information on coconut, its economic value, its cultivation in the District of massinga district and analyzes – if your impact on spatial and social within the same territory. From information gathering to local populations be concrete conditions that drove the cultivation of coconut in the district and therefore the conditioning morphology in occupation of spaces in the coastal zone.
In the fourth and final chapter does – if the approach of implementing educational theme in teaching History in the context of the local history of the District of massinga district and in the programmes of primary and secondary education in Mozambique.
For the preparation of this work were scheduled three steps: the first step consisted in Cabinet, implemented by the collection of data in the file History of Mozambique, in the libraries of the University Eduardo Mondlane, Pedagogical University, Assembly of the Republic, the National Institute of cotton, the Ministry of State Administration and the National Statistical Institute.
The second step consisted in fieldwork, whose search occurred in the Government District massinga district, economic Services massinga district, administrative posts even district and local considered strategic to check the reliability of expected results.
These locations were also performed semi-structured interviews with community leaders and peasants to enrichment of the work. For the purposes of consultation, the full version of this work was deposited in the Centre of Pedagogical University resources in Maputo.



RELEVÂNCIA DO TEMA NO ENSINO HISTÓRIA: ABORDAGEM DO TEMA NOS PROGRAMAS DE ENSINO.

No âmbito de História Local.

A Historiografia colonial sobre Moçambique deixou uma “base fragilíssima em termos de estrutura de fontes [que] apenas é rica em discrições etnográficas, memória de viajantes e legislação colonial…” e Massinga não foi uma excepção.
O tema em estudo ao reconstituir factos que interessam à própria História do distrito de Massinga e à História de Moçambique pode possibilitar a inserção do aluno no passado da comunidade onde vive, visto que, ao interrogar as fontes locais encontrará referências em pessoas mais velhas, lugares conhecidos, identificação dos vestígios do passado no distrito, permitindo uma compreensão empática dos grupos sociais que fizeram parte de diferentes momentos da história, desenvolvendo no aluno habilidades e competências de pesquisa. O ensino deste tema, vai desenvolver nos alunos daquela região, “um espírito de observação, análise de situações e contribuir decisivamente para iniciação ao método da pesquisa histórica” .

A título de exemplo, o autor percorreu a região do Posto administrativo de Guma e notou que na povoação do Rio das Pedras, situa – se uma antiga exploração agrícola do Sr. Ferreira dentro da qual funciona a Escola Primária e Completa Rio das Pedras . Portanto, estamos perante um exemplo concreto em que ainda há referências e vestígios do passado para reconstituição da história local, fonte para enriquecimento do currículo local.

Para se perceber a importância da história local na reconstituição do passado e introdução à investigação, aprecie – se o seguinte comentário:

A História local prova a autenticidade das fontes e possibilita uma sólida iniciação à História uma vez que, em situações em que o aluno da tenra idade é confrontado com acontecimentos de regiões muito distantes… leva a que este considere esta ciência como uma mera invenção… Assim, para o caso particular da História, a comunidade em que o aluno está inserido constitui a base material e conreta, [sic] aspecto que possibilita a confirmação dos factos apreendidos na escola, sempre que o aluno desejar(Pedro, p. 88).


Partindo deste comentário pode – se deduzir que no caso concreto do distrito de Massinga, através da abordagem deste tema, os alunos poderão beneficiar – se das fontes orais locais para fazer novas perguntas à própria História.

No ensino básico, a disciplina de História deu lugar às Ciências Sociais. Analisado o programa curricular da 4ª e 5ª classes, apreende-se que o mesmo visa dotar o aluno de capacidades de compreender o homem no seu meio, suas relações com o seu passado, com base na recolha de informações na comunidade.

Só com a valorização do seu meio, o aluno poderá socializar-se com as transformações económicas, sociais e políticas da sua localidade. No caso concreto de Massinga, no âmbito da História local, na ordem do saber e saber ser vão adquirir e consolidar conhecimentos claros e precisos sobre História deste distrito; na ordem de competências e do saber fazer, os alunos deverão saber organizar seus conhecimentos e estabelecer comparações com as realidades observadas e com outras mais longínquas .

Na ordem do saber estar deverão compreender a herança histórica rica em cultura diversificada e riquezas económicas de Massinga para participarem no desenvolvimento deste distrito.

Assim sendo, na 4ª classe, unidade 3, ao fazer identificação das características geográficas da província, poder-se-á particularizar características do distrito e da localidade.

Na 5ª classe, 2ª unidade ao falar-se da noção do colonialismo e suas dimensões económicas, sócio-culturais e políticas, pode-se também particularizar no caso de Massinga, analisando relações que os portugueses estabeleceram com as populações locais. Na 3ª unidade ao abordar-se o conceito de Moçambique independente, pode-se também estudar as actividades socio-económicas e culturais das populações de Massinga antes e depois da proclamação da Independência Nacional.



4.1.2. No Ensino Secundário Geral

Na 10ª classe, tendo em conta que alguns objectivos do programa visam formar o aluno para que seja capaz de: Explicar o colonialismo e relacioná – lo com o subdesenvolvimento dos países africanos, caracterizar a actuação colonial em Moçambique nos âmbitos da administração colonial, exploração de recursos, trabalho forçado e relacionar a crise geral do colonialismo entre as duas guerras , o presente trabalho tem aplicabilidade na unidade 1 quando – se analisam as formas de exploração colonial, na unidade 2 quando se caracteriza a Crise Económica Mundial de 1929 – 1933, Moçambique durante os anos 1920-1930, as consequências da Crise Económica Mundial para África e Moçambique e quando se aborda as características do Estado novo de Salazar em Portugal e na unidade 3 quando se fala do Papel económico de Moçambique .

Na 12ª classe , ao falar-se da Dominação colonial em Moçambique a partir de 1930, das conjunturas económicas e marcos de viragem assim como medidas e repercussões da política colonial nesta fase, o presente trabalho sobretudo no seu capítulo II, contribui com alguma informação histórica ao identificar o Duplo poder do Estado colonial-companhias até 1930.

Explicando o Nacionalismo Económico de Salazar, Fascismo Português e exploração dos recursos de Moçambique, permite fazer uma análise global das repercussões de exploração colonial.

De uma forma geral, o presente trabalho tem inserção nos programas de ensino em todos os conteúdos que retratam as formas de exploração do colonialismo Português em Moçambique no quadro da economia de plantações, exploração da economia de subsistência, ao subordiná-la aos interesses da economia capitalista.

Acredita-se também que no ensino superior este trabalho pode subsidiar com algumas informações para futuras investigações. A aplicabilidade didáctica deste tema no ensino de História depende do interesse e criatividade do professor em qualquer nível de ensino.


CONCLUSÃO

Portugal começou a interessar-se pela copra em 1940, quando foram aprovadas quotas de exploração em 1939. O cultivo do coqueiro em Massinga em regime industrial foi feito por colonos para responderem com eficácia os projectos industriais de Moçambique para industrialização dos produtos do coqueiro em Inhambane. Por outro lado, a capitalização dos colonos pelo Governo colonial satisfazia em parte a crença de que o indígena não era digno de ser chamado agricultor, apenas devia canalizar suas colheitas nos postos de venda.

A região de Massinga foi considerada ideal para difusão do coqueiro por reunir condições agro-ecológicas favoráveis na zona costeira caracterizadas por climas quentes e húmidos com precipitações médias anuais de 1200 mm.

O fim das explorações agrícolas e o facto de serem zonas próprias para agricultura precipitou a ocupação desenfreada dos espaços, o que condicionou por sua vez o ordenamento territorial e social em Massinga. O coqueiro como fonte de rendimento principal para os habitantes, tornou-se fonte de disputas e, por conseguinte, uma referência ou marco para reclamar a violação ou não de um espaço. Por outro lado, o coqueiro tornou – se um elemento discriminatório para famílias vindas de outros pontos, visto que sem acordo prévio com as famílias locais não há possível aproveitamento da terra e seus bens.

O coqueiro condiciona a convivência social, visto que tudo depende dos moldes de partilha dos coqueiros entre os membros da mesma família e também, depende do respeito que se tem pelos coqueiros de outras famílias para se evitar conflitos.

Os conflitos resultam das ocupações feitas durante a guerra civil que com o seu fim, reaparecem antigos donos e expulsam actuais ocupantes sem recursos para abandonarem os espaços ou adquirirem outras terras.

Desta maneira, o facto do coqueiro ser uma cultura permanente condicionou o ordenamento territorial e social em Massinga porque, primeiramente os colonos ocupavam maior parte das terras favoráveis ao cultivo do coqueiro. Com o fim das explorações agrícolas, as comunidades locais retomaram as terras e condicionaram a ocupação conforme os vínculos de linhagem. O nível de convivência social é determinado pelo comportamento das pessoas em relações aos coqueiros.



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Fundamentos para a construção do currículo local: Estudo do caso do Culto dos Antepassados dos Vachopi no Nordeste de Mandlakazi

terça-feira, 11 de maio de 2010 by Fernando Marcos Nhantumbo | 3 comentários
Uma reflexão didáctica no ensino de História
Por:
Fernando Marcos Nhantumbo
(Mestrando em Educação/Ensino de História)
(Universidade Pedagógica-Maputo)
Resumo

O presente trabalho com o tema: Fundamentos para construção do currículo local: Estudo do caso do Culto dos Antepassados dos Vachopi no Nordeste de Mandlakazi, procura examinar indicadores sócio – culturais dos Vachopi que possam servir de fundamentos para elaboração de um currículo local.
Além da introdução, o presente trabalho apresenta – se estruturado da seguinte forma:
No primeiro capítulo, apresenta – se o conceito do currículo na versão de diferentes autores e sintetiza – se o posicionamento do autor olhando para o currículo do ensino básico em Moçambique.
No segundo capítulo é apresentado o estudo sobre as manifestações sócio – culturais dos Vachopi no que concerne à sua origem, factores de homogeneização da identidade cultural dos Vachopi com particular destaque para o culto dos antepassados. É neste capítulo onde se pode apreender os grandes temas de cultura dos Vachopi que podem servir de base para elaboração de um currículo local.
No terceiro capítulo, o autor apresenta fundamentos etno – históricos dos Vachopi que servem de proposta como conteúdos para elaboração de um currículo local.
Na parte final do trabalho, é apresentada a conclusão e bibliografia final.

Summary
This article with the theme: Fundamentals for building the curriculum location: case Study of the worship of the ancestors of the Vachopi northeast of Mandlakazi, seeks to examine socio cultural indicators – Vachopi could serve as grounds for elaborating a local curriculum.
Besides the introduction this work presents structured as follows:

In the first chapter is presented the concept of the curriculum in version of different authors and synthesize the placement of the author by looking at the primary school curriculum in Mozambique.
In the second chapter is presented the study on the socio-cultural manifestations of Vachopi since origin factors homogenizing the cultural identity of Vachopi with a particular focus on worship of ancestors. It is in this chapter, where you can seize the major themes of culture of Vachopi that can serve as the basis for elaborating a local curriculum.
In the third chapter, the author presents pleas ethno-historical Vachopi that serve as content for preparing local curriculum.
n the latter part of the work, is presented the conclusion and bibliography.

Introdução

O presente trabalho tem como tema: Fundamentos para a Construção do Currículo Local: Estudo do caso do Culto dos antepassados dos Vachopi no Nordeste de Mandlakazi.

A valorização e divulgação dos valores da cultura, os costumes e as tradições dos Vachopi como proposta de conteúdos para o currículo local, constituem motivações para a realização do presente trabalho.

1- Objecto da pesquisa

A herança cultural dos Vachopi é multifacetada olhando para o papel de cada membro da família nos aspectos sociais, económicos e culturais. Constituem como elementos de identificação cultural deste povo, os ritos e as cerimónias, a alimentação, as bebidas, a dança, a música, o vestuário e os adornos, os jogos e os passatempos, o modelo de construção de edifícios e as actividades económicas. Para o presente trabalho constitui como objecto de pesquisa, o culto aos antepassados na região de Chidenguele, localizada a Nordeste de Mandlakazi na província de Gaza.

2- O problema da pesquisa

A disciplina de ciências sociais no II ciclo do ensino básico preconiza a abordagem da história local nas unidades temáticas “Família” e “Escola” (PCEB,2003: 274/275), de forma que cada região faça uma construção curricular correspondente.
O que se verifica é que há fraca pesquisa da história local por parte da escola que lideraria a comunidade e os professores para a construção e a integração curricular dos respectivos conteúdos produzidos localmente. Esta lacuna contribui para a fraca abordagem dos saberes locais existentes na comunidade onde o aluno está inserido.

Partindo do princípio de que os elementos sócio – culturais dos Vachopi contém doses de saberes educativos e pedagógicos na valorização da nossa cultura que podem constituir uma história local, lança – se como pergunta de partida:
Como construir um currículo local a partir de elementos sócio – culturais dos Vachopi?

3 – Hipótese

Pode-se construir um currículo local a partir de grandes temas de cultura dos Vachopi a serem identificados pela comunidade e tratados de forma científica pela escola.

4- Objectivos da pesquisa
4.1. Geral

- Identificar elementos sócio – culturais dos Vachopi para a elaboração do currículo local.
4.2. Específicos
- Analisar o Currículo do Ensino Básico em Moçambique
- Examinar a cultura dos Vachopi como forma de valorização da história local

- Propor fundamentos para construção do currículo local com base nos elementos sócio – culturais dos Vachopi.

5 - Metodologia

Para realização desta pesquisa, privilegiou – se o método qualitativo. Para apuramento de informações fez – se pesquisa etnográfica na região, que consistiu em indagar e conversar com as pessoas que aceitaram nos conceder entrevistas e que segundo as expectativas do autor tinham perfil suficiente para fornecer informações relevantes. Também fez – se a combinação da pesquisa-acção-participativa e revisão bibliográfica pelo autor do presente trabalho.


6 – Justificativa

Para a compreensão da abordagem dos saberes locais como segmentos particulares passíveis de serem generalizados para construção de uma história nacional de Moçambique, foram consultados alguns autores: SIQUISSE (2006), CANDA (2006); IVALA (2002) e todos falam da valorização de elementos sócio – culturais de histórias locais como património cultural a ter em conta na elaboração da História de Moçambique. Neste rol de estudos pretendo contribuir com a divulgação da cultura dos Vachopi como subsídios para construção do respectivo currículo local.

7 – Relevância da pesquisa
A presente pesquisa, ao estudar os elementos sócio – culturais dos Vachopi poderá contribuir para a valorização do património cultural dos Vachopi, respeitando as diferentes tradições culturais do vasto Moçambique e contribuir para o enriquecimento do currículo do ensino básico, em especial para a comunidade dos Vachopi na região de Chidenguele em Mandlakazi. Espera – se também que esta pesquisa ajude na divulgação da realidade sócio – cultural dos Vachopi que em parte é desconhecida no ensino oficial e integrar as experiências deste povo no currículo do ensino básico.

Capítulo I

O currículo do Ensino Básico em Moçambique

Segundo PACHECO (2001), as definições de um currículo não são neutrais porque numa perspectiva é um conjunto de conteúdos a ensinar que se encontram organizados por áreas e temas de estudo (p.15-20), observando um plano ou programa pedagógico e noutra perspectiva é um sistema dinâmico, probabilístico sem uma estrutura pré – determinista.
O mesmo autor, cita GRUNDY (1987: 5) que define o currículo como uma construção cultural e um modo de organizar um conjunto de práticas educacionais humanas.
Para MACHADO e GONÇALVES (1991) O currículo é um conjunto de actividades educativas programadas pela escola, englobando componentes culturais e sociais,… É sistematização de resultados pretendidos (p. 43 – 54).

Apreciando as definições propostas pelos autores, o currículo antecipa os resultados pretendidos numa sociedade respeitado os aspectos sócio – culturais da mesma. Por outro lado, embora estes autores apresentam definições que omitem o envolvimento do Homem na manipulação do currículo, depreende-se que é para os sujeitos sociais a quem este currículo diz respeito.
O currículo quanto a nós é uma planificação educativa com uma certa finalidade num processo interactivo dinâmico que se ajusta às continuas transformações numa determinada sociedade. Assim o nosso posicionamento entra em concordância com MACHADO apud GIMENO (1988) quando afirma: Um currículo não se elabora do vazio, nem tão pouco se organiza arbitrariamente, o currículo é uma representação do universo do conhecimento (p. 42).
Assim intentamos a partir deste posicionamento concluir que o currículo é socializador porque é um processo que envolve debates confluentes que admitem inovações do mesmo currículo, tendo como epicentro o Homem numa determinada sociedade, sem contudo excluirmos o poder politico que determina de certa maneira a matriz do currículo.
O currículo do ensino básico em Moçambique, define a educação como um processo pelo qual a sociedade prepara os seus membros para a continuidade e cabe ao currículo enquadrar – se nas estratégias de momento para responder as mudanças económicas e é sócio – culturais num determinado contexto (PCEB; 2003: 7).
Avaliando as linhas mestras deste plano curricular, nota – se que acomoda a transformação e o desenvolvimento que a nossa sociedade vai impondo. Olhando os diversos conceitos do currículo, achamos que o plano curricular do ensino básico em Moçambique equaciona experiências globais de outros currículos e respeita os factores culturais dos moçambicanos ao dedicar 20% da carga horária das ciências sociais para o ensino da história local. O que não fica claro neste processo é a causa do desfasamento entre as intenções do currículo oficial e o real valor que as comunidades assumem na elaboração dos conteúdos locais, sendo elas a ponte de interacção entre a cultura tradicional e o ensino oficial, alias, o presente trabalho ensaia algumas propostas para o efeito.
Pensamos ainda que o currículo local estabelece que os programas devem prever uma margem de tempo para o currículo local e a escola se organizar para a introdução dos conteúdos locais conforme recomenda o PCEB (2003):
Os conteúdos locais devem ser estabelecidos em conformidade com as aspirações das comunidades o que implica uma negociação permanente entre as instituições educativas e as respectivas comunidades. As matérias propostas para o currículo local, devem ser integradas nas diferentes disciplinas curriculares, o que pressupõe uma planificação adequada das lições. (p. 27)
Partindo desta consideração, entende – se o currículo abre espaço para que a comunidade, a escola e os professores sejam actores principais na produção de conteúdos locais, o que julgamos errado é a passividade destes perante este processo. Portanto é na perspectiva de contribuir na produção de conteúdos locais que se realizou o presente trabalho, porque o professor deve com os conhecimentos que possui interagir com a comunidade para o sucesso deste processo.



Capítulo II
Breve historial dos Vachopi

Os povos hoje chamados de Tsonga,Vachopi e Bitongas resultam de diferentes experiências históricas para compreensão da distribuição étnica no sul de Moçambique. No caso dos Vachopi da região de Chidenguele, a Nordeste de Mandlakazi na província de Gaza, há fortes indícios de serem provenientes dos Xona – Karanga onde presume – se que duas tribos nomeadamente Valói e Guambe ao deslocarem para o Sul de Moçambique terão sido responsáveis pela disseminação dos actuais regulados dos Vachopi entre Xai – Xai e Inharrime.
Os Vachopi são um conglomerado de tribos ou segmentos de tribos emigrados de pontos vários de África, o termo Vachopi foi lhes atribuído pelos angunes pelo facto de arremessarem flechas. Os grupos mais representativos foram três e todos vinham da região dos Karangas: os Valói, os Langa e os Guambe.
As características que confirmam a ligação dos Vachopi com os Xona – Karanga são: o uso de arco e flecha como arma principal, prerrogativa do chefe e … descoberta de espíritos possessivos por meio de fustigação com cauda felpuda de animais e da sua subsequente aspiração pelo adivinho.
Pode – se deduzir desta maneira que os Vachopi resultaram do abarcamento de vários clãs e sub clãs ou linhagens que pelo facto de ocuparem um único território construiu a sua própria identidade com base na língua, cultura e sujeição aos mesmos chefes.

2.1. Factores de Homogeneização Sócio-Cultural dos Vachopi

Os Vachopi construíram o seu substrato cultural num processo lento de integração linguístico comum, de uma coexistência prolongada dentro de um mesmo território e através da sujeição eventual aos efeitos de guerras dos invasores angunes e do efectivo domínio Europeu. A única feição cultural que os identifica é Ku – Tchopa,( arremessamento de flechas) - razão da atribuição do nome “chopi”, assim sendo não existe uma cultura autónoma chopi distinta das demais, apenas os Vachopi, … estão conscientes do pluralismo das suas origens e do carácter formal da designação que agora lhes cabe .
Entende-se a partir deste posicionamento que os Vachopi vieram em vagas sucessivas de origem e tempos diferentes, porém, devido à longa convivência, criaram o seu próprio estilo de cultura.
Sobre este assunto, acrescenta – se que … Binguanhane, um dos netos do grande chefe Dzowo, do vale do Limpopo, Conseguiu dominar e unificar parte dos régulos Vachopi numa resistência contra Maueue, Muzila e Ngungunhane… e sintetiza – se que esta resistência colectiva contribuiu para desenvolver sentimento de identidade entre os Vachopi e para testemunhar que as características culturais dos Vachopi fazem parte dos Xona – Langa ou Xona – Karanga , aprecie – se o seguinte comentário:
São convincentes as provas da origem Xona – Langa de parte das características culturais dos Vachopi… Xilofone recurso do tipo Karanga, Juramentos junto do Grande Tambor Sagrado, certos termos como Muzimo (Antepassado – deus), Phongo (cabrito), a forma de cumprimentar, com bater de palmas, também era semelhante a dos Xonas – Langas… os Vachopi foram conhecidos durante muito tempo por Mindongues, segundo JUNOD (Filho) o verbo Ku – Tchopa «« Atirar setas»» é de origem tsonga, foi aplicado pelos Guerreiros tsonga, foi aplicado incorporadas nos regimentos Vangunes.
A partir deste comentário pode – se concluir que os factores de hegemonia sócio -cultural dos Vachopi resultam da sua longa convivência espacial e construção de nova identidade autónoma.


2.2 – Manifestações sócio – culturais dos Vachopi

As características sócio – culturais das populações rurais do Sul de Moçambique residem na perpetuação dos hábitos de parentesco, onde reside a moralidade que observa e assegura a ordem hierárquica de cada família.
Os Vachopi se distinguem dos de mais povos Sul de Moçambique pois tem padrões de crenças, valores, formas de comportamento, conhecimentos e saberes que foram sendo passados de geração em geração.
Analisando os dois pontos de vista podemos concluir que as manifestações sócio – culturais nas zonas rurais no sul de Moçambique inserem – se numa área cultural com características universais próprias podendo adquirir algumas particularidades dentro da mesma área cultural.
Os Vachopi são essencialmente agricultores, só comem carne sempre que a ocasião se lhes ofereça resultante da criação de animais domésticos ou caça de animais de pequeno porte. As mulheres cozinham uma vez por dia ao cair da noite, o que sobra fica para dia seguinte para pequeno-almoço (Kussussula). No que concerne ás bebidas, apreciam água, as bebidas são feitas por cereais, frutos, vegetais e aguardentes.
Durante a visita à comunidade de Nhachengo foi possível colher o seguinte depoimento com um residente local, o que confirma o exposto acima:
…ATHU VACHOPI” (Nós os Vachopi) somos quase vegetarianos porque só comemos carne quando decidimos matar um animal doméstico ou de caça. “Va SIKATIVATHU” (as nossas mulheres) é que asseguram economia familiar, a comida “xiguinha” que sobra do jantar comemos no dia seguinte quando voltamos da machamba. Bebemos água do “Dhithangueni” (Reservatório, Tanque pertencente a uma família) ou do poço, que fica em Nhambavale. Nas cerimónias ou em ocasiões festivas bebemos “Ussuke” (cerveja) ou “sopa” (Aguardente}.
Avaliando as descrições acima citadas, constatou – se no campo que os Vachopi alimentam – se basicamente de “xiguinha” (refeição preparada de mandioca, amendoim e vegetais), outro tipo de refeições é preparado em ocasiões especiais como é o caso de festas ou cerimónias. A distância que se percorre à procura de água levou os Vachopi a construir reservatórios de água para sobrevivência por longo tempo. O consumo de bebidas, consumo de carnes e refeições não habituais está ligado às ocasiões festivas ou cerimoniais.
No domínio da arquitectura, os Vachopi tem conservado sem qualquer alteração, a palhota dos antigos tempos, podendo haver algumas construções de forma quadrada. A escultura dos Vachopi é utilitária visto que produz utensílios de uso doméstico e adornos.
Sobre este assunto, foi possível apurar que Nhumba (Palhota) é casa típica dos Vachopi, subdivide – se em Gozinyane (cozinha, palhota/celeiro) e Dalicence (palhota/quarto). A escultura dos Vachopi fazia por exemplo: Inkho (colher de pau grande), dhigombe (copo de Madeira), M’bere (Gamela), tchirundo (bacia feita de tecelagem); peneiras (tchisselo); cestos (Tithavango, Xirema); chapéu (Tchigoko); cordas (Madjoke) usadas da construção de habitações e outros afins.
Apreciando esta informações podemos deduzir que a arte dos Vachopi serve para as necessidades sociais diárias deste povo.
A música é uma das componentes culturais dos Vachopi…Os Vachopi são mestres de timbila (…) os pianistas se assentam em linha (…) e tocam em conjunto, com todo o bando de homens dançando na sua frente.
Para se complementar a versão deste autor aprecie – se o seguinte comentário:
Ka M’GANGA AWU” (nesta região) temos NGALANGA executada por jovens, na ausência de NGALANGA, os presentes entoam canções a acompanhadas do ritmo de batidas de palmas e dançamos “MAKHARA” (Dança Típica dos Vachopi); os Jovens pastores de gado tocam “Txigovhilo” (Flauta feita de fruta de massala), os anciãos tocam “TXITENDE” (instrumento Musical com Arco curto com extremidades ligadas por um fio feito de Fibras de Palmeiras) …timbila só é requisita para “Xidhilo” (Missa em veneração aos antepassados.
O vestuário dos Vachopi encontra similaridades com as outras populações do Sul de Moçambique:…uso de capulana e lenço pelas mulheres e uso de calças pelos homens. Para confrontar afirmação deste autor, realizou uma observação qualitativa e verificamos que o traje dos Vachopi resulta da fusão de culturas no uso de tecidos. Socialmente, a maneira de vestir tem grande significado entre os Vachopi, sobretudo as mulheres que se vestem sempre a rigor de capulana e lenço. Por outro lado concluímos que todas as manifestações culturais dos Vachopi através do traje, dança, artes, alimentação, religião e outras formas de cultura são tendentes a consolidar a identidade social deste povo.


2.3. O Culto dos antepassados dos Vachopi

No contexto das cosmologias locais no Sul de Moçambique, onde os Vachopi se inserem, quando uma pessoa morre, o seu espírito permanece enquanto manifestação do seu poder e da sua personalidade, a morte marca apenas a transição existencial, o morto exerce uma influência poderosa sobre a sociedade guiando e controlado a vida dos seres humanos.
Os mortos tornam – se “Antepassados – deuses” (chicuembos) da família, residem nos túmulos e relacionam – se com os descendentes vivos revelando – se nestes ou sob forma de animais (geralmente cobras), podem – se comunicar também através dos sonhos, levando os descendentes a consultar “tihlolo” (ossículos) e respeitar o veredicto dos antepassados.
Para melhorar compreensão deste assunto aprecie – se seguinte comentário:
A autoridade do pai, dos avós paternos, projecta – se além da morte, todos os membros da família são deificados por aqueles que vivem, formaram – se hierarquias de almas que levam o oficiante nas cerimónias de culto a invocar, por vezes um antepassado remotíssimo em vez do pai ou avo falecido. Os deuses são sempre parentes dos crentes; são cultos de índole familiar. Os cultos são feitos junto dos embondeiros ou cemitérios .
Outro testemunho sobre o assunto afirma:
O culto aos antepassados permanece como parte integrante do sistema de parentesco: todas as pessoas adultas que morrem se tornam deus refiram aos seus inimigos (…) são guardiões e protectores dos membros da família, aliados e mediadores; não influenciam, ninguém que não pertence ao seu parentesco, apenas quando alguém faz mal aos parentes ou a si mesmos .
Disto infere – se que entre os Vachopi, os mortos tornam – se deuses e protegem os seus descendentes ainda vivos.
Durante a pesquisa verificamos que a natureza divina dos antepassados – deuses entre os Vachopi caracteriza – se pela posse de atributos divinos depois da morte, encontram domínio infinito, ascendem a categoria de chicuembos, são omnipotentes, tem domínio dentro da mesma linhagem com mesmo chibhongo (apelido) e para eles a distância não existe, estão presentes em toda a parte, são semelhantes ao céu, sol e lua .
Os elementos fundamentais do culto dos antepassados são: 1º - Consultam – se ossículos que revelam qual dos antepassados – deuses, como, quando e por quem o sacrifício deve ser feito; 2º o oficiante, em regra o mais velho da família, preside a cerimonia e 3º - as vitimas são trazidas pelos designados e pelos voluntários.
A partir destes dados podemos perceber que estes antepassados não passam de humanos, são apenas espíritos alvos de adoração, são cultos particulares e as suas prescrições visam salvaguardar e reforçar hierarquias, traço fundamental da ordem social entre os Vachopi.
Para testar os posicionamentos de autores até aqui citados, procuramos avaliar a dimensão do culto aos antepassados no regulado de Nhachengo, em Chidenguele, a Nordeste de Mandlakazi na província de Gaza.
Para Kuphahla (culto doméstico celebrado pelo pai com assistência de todos os membros da família), oferece – se fola (rapé) a ou Uputsu (cerveja feita cereais), faz – se este culto em ocasiões de nascimento de uma nova criança, viagem longa ou procura de sorte, segurança e estabilidade para levar diante a vida; Xidhilo ou Mhamba (culto ou ritual que junta todos os descendentes da linhagem, e todos contribuem com algo) realiza – se ao amanhecer no local prescrito pelo Tihlolo (ossículos de adivinhação que redefine a prescrição social a ser seguida para reparação do mal) sacrificando – se animal, espalhando sangue, servir refeição aos espíritos no Magaandeloni (cemitério familiar); o oficiante indicado preside e invoca durante o culto, todos os nomes dos mortos da família começando por Hahani (irmã mais velha do avô paterno). Todos os membros da linhagem podem expressar seus sentimentos, geralmente estas cerimónias são dirigidas Nyamussoro (curandeiro).
Na mesma ocasião foi possível assistir o culto Kuphahla por ocasião da chegada de um membro da família ausente a longa data:
O Chefe da família com Dhigombe (copo feito de madeira) com algum vinho por sinal trazido pelo recém-chegado, bebeu um pouco e soprou algum junto da árvore, local de culto dos antepassados onde todos os membros encontravam – se rodeados e disse:
“Ngani Phendanhani wa dhi Tina (Sou eu Phendanhane de nome)
Nguyo Nduwo Niminingako (Eis a oferenda que vos dou)
wae Hahani Mabady Ni Mhuana Wako (Tia Mabady e seu marido)
Nindiako combele Ningamu Yakwe (com seu irmão combele e Família)

Nawe Kokwana Combele Nivhanana Vhako: Maxuanhani Ni Njacalazi (você vovov combele e seus filhos Maxuanhani e Njacalazi)
Tasanganani Motseno Ahawua (Cheguem todos Aqui)
MaxoKwanhani, Ntukulu Wano Abuakile, Akhene Ndyo Vinho mina tima Dhitora (Maxokwane, vosso Neto, chegou e vos dedica este vinho para matarem sede)

Akombela ku, Mwengetela Tindjombo Ka mithumu Yakwe (pede que lhe dêem mais sorte nos trabalhos e vida dele)
Kahi Kedy intho, Tsungetani motseno (Não excluímos ninguém aproximem – se todos, aqui está a oferenda do vosso neto Maxokwanhani.

Durante o culto, oficiante foi despejando o vinho aos poucos para os antepassados, os restantes membros deviam estar a volta do oficiante calados como sinal de respeito pelos antepassados – deuses.
Depois daquele culto, foi nos explicado que qualquer familiar pode fazer oferendas aos antepassados por intermédio do oficiante indicado; as oferendas podem ser regulares nos utensílios (gamela ou panela de barro furados) dos antepassados; outros bens como dinheiro; galinhas e tabaco servem de oferendas também.
Podemos finalmente concluir que o culto aos antepassados serve solicitar paz, abundância, protecção e sorte para a família.
Desta forma podemos concluir que o culto aos antepassados é dirigido pela personalidade mais idosa da família ou linhagem numa cerimónia denominada Kupahla.


Capítulo III
Fundamentos para construção do currículo local

A abordagem da história local, facilita a apreensão e o domínio de conceitos até certo ponto, abstractos como é o caso do tempo e o espaço, com uso da língua local com significações do contexto quotidiano, Unkama e umganga ,faz com que a história deixe de ser abstracta, porém implica diagnosticar a realidade cultural local (Felgueiras, 1994: 40 – 42).
Concordando com o autor acima, a educação autóctone vem plasmando vários conceitos ao aluno, neste caso em Chichopi, desde a nascença ate à idade para o ingresso no ensino oficial, o que achamos errado, era o desprezo a que estes conceitos eram votados quando o aluno ingressasse no ensino oficial.
O currículo local não indaga apenas o passado porque os testemunhos vivos que vão contribuir neste processo, vão transmitir conhecimento explicativo e útil para o presente. Isto significa que um currículo local que consagrasse os elementos sócio – culturais dos Vachopi teria em conta os seguintes elementos:
1 – A língua:
Os Vachopi, fazem parte de um mosaico multicultural moçambicano com uma língua, denominada Chichopi, que de acordo com estudos sócio – linguísticos faz parte do projecto para o ensino bilingue e esta língua é falada nas províncias de Gaza e Inhambane. Tendo em conta que a língua é um veículo de transmissão de culturas, a preservação da língua Chichopi é visto como um direito humano.
2 – A cultura
A cultura é um universo de objectos materiais e simbólicos, carregados de sentido e informação herdados pela comunidade e por esta transmitidos aos seus membros, que se tornam seus portadores (CANDA, 2006: 26).
Os Vachopi são um grupo etno – histórico que tem cultura própria que se desdobra em praticas sócio – económicas, ritos e cerimónias, divisão social do trabalho, dança e estereótipos relacionados com o género. No capitulo da cultura, o currículo local vai dotar o aluno de conhecimentos em relação:
Á sua origem e valor da sua língua; à relação que o homem local tem com a natureza; às formas de poder, sucessão e herança; às formas de posse de terras; à formação de linhagens, sistemas de parentescos, casamentos e atribuição de nomes; às cerimónias, rurais, religiões, mitos locais e ritos de iniciação; às praticas sócio – económicas: Comércio, construção de casas, agricultura, pecuária, pesca e migração; à divisão social e técnica do trabalho tendo em conta os estereótipos em relação ao género; aos provérbios, contos, jogos, danças e canções locais; ao uso de nomenclaturas chopi na abordagem de alguns conceitos durante o processo de ensino aprendizagem.
3 – Educação autóctone
No capítulo da educação autóctone, notamos que aluno ao entrar para o ensino oficial, traz consigo grandes indicadores de desempenho e competências respeitantes a sua identidade cultural. Através dos provérbios locais, ritos de iniciação, rituais e praticas sócio - económicas, a educação autóctone desempenha um papel primordial na transmissão de usos de costumes as gerações de forma continua e a partir do ensino oficial, o aluno aprende nos valores respeitando as crenças de outros indivíduos, dai que currículo local deve valorizar os saberes locais transmitidos pela educação autóctone.
Na realidade educativa moçambicana existem dois currículos que vigoram em simultâneo principalmente nas zonas rurais: Um pelas escolas autóctones – tradicionais baseando nos mitos e ritos de iniciação e o outro pelas escola oficial moderna (CANDA, 2006: 5).
Podemos depreender que no caso particular dos Vachopi, transmitem conhecimentos e experiências acumuladas pelas velhas gerações as novas gerações e são essas experiências que o aluno traz consigo quando ingressa na escola. A história local pode resgatar o currículo oculto da educação autóctone que em simbiose com o currículo oficial possa de facto construir um currículo local que inspire as aspirações da comunidade dos Vachopi em Chidenguele, conforme os grandes temas de cultura chopi referidos neste trabalho.
Desta forma pensa – se que o facto dos Vachopi possuírem uma autonomia sócio – cultural, que caracterizamos no capítulo anterior, o currículo local e eles respeitante pode acomodar os saberes locais que manifestem uma atitude positiva e de tolerância em relação às outras culturas no contexto do currículo oficial.
Por outro lado são propostos como objectivos gerais do currículo local no ensino das ciências sociais:
a) Educar o aluno a ter orgulho e respeito pela tradição e cultura chopi, respeitando outras tradições e culturas, desenvolvendo atitudes positivas na comunidade.
b) Educar o aluno ter respeito pelos direitos humanos na sua comunidade e noutras distintas.
c) Proporcionar conhecimentos sobre a história do seu povo para uma plena integração do aluno na comunidade com membro activo.
d) Participar positivamente nas actividades económicas da comunidade, desenvolvendo autonomia e auto – estima crescente.


Conclusão

A abordagem do currículo pela sua etimologia suscita, vários debates em relação à conceituação do mesmo, porém pelos efeito práticos do mesmo podemos chegar um consenso de que é uma construção cultural porque socializa o conhecimento e as experiências de uma sociedade e antecipa resultado de várias consultas à sociedade em último e gerido pelo poder politico.
No caso da currículo do ensino básico em Moçambique, conclui-se que deixa uma margem de 20% do tempo lectivo de cada disciplina para implementação de conteúdos locais, porém o que acontece, na óptica do autor falta o papel activo da escola inserida na comunidade aliado a fraca preparação dos professores em parte para a produção de conteúdos que possam configurar o currículo local.
A perpetuação da autonomia cultural consolidou um legado de manifestações – sócio culturais entre os Vachopi, que se distinguem de certa maneira das outras populações do Sul de Moçambique.
O culto dos antepassados dos Vachopi não se difere tanto dos outros cultos das zonas rurais do Sul de Moçambique, adquire seus aspectos específicos em função da língua, dos outros traços culturais e realiza – se o culto através de um ritual familiar dirigido pelo chefe da família que serve de comunicações com os antepassados chamado Kuphahla.
Por fim, o autor confirma a hipótese de os Vachopi possuem um legado cultural suficiente para produção de conteúdos locais e julga que é pertinente que o currículo local no caso vertente dos Vachopi seja o resultado de experiências de aprendizagem moldadas nas respectivas comunidades através da educação autóctone cuja interacção com o ensino oficial faz com que as significações do contexto quotidiano fazem da História ou Ciências Sociais, uma disciplina não abstracta.


Bibliografia

CANDA, Candido Jasse. Educação Autóctone e a Educação oficial moderna: Efeitos dos ritos de iniciação autóctone sobre o rendimento escolar dos alunos iniciados. S. Paulo,2006.121p.
COTA, José Gonçalves. Mitologia e direito consuetudinário dos indígenas de Moçambique – Estado de etnologia mandado e laborar pelo governo-geral da colónia de Moçambique. Lourenço Marques, 1944. 260p.
FELGUEIRAS, Margarida Louro. Pensar a Historia. Repensar o seu ensino. Porto,1994.144p.
HONWANA, Alcinda Manuel. Espíritos vivos, tradições modernas possessão de espíritos e reintegração social pós guerra no sul de Moçambique. Maputo, 2002. 292p.
INDE/MINED. Programas das Disciplinas do ensino Básico. Maputo, 2003. 597p.
INDE. Plano Curricular de Ensino Basico.Maputo,2003.88p.
JUNOD, Henrique A. Usos e costumes dos Bantu: A vida duma tribo sul – africana. Tomo II. Lourenço Marques, 1946: 634p.

MACHADO, Fernando A. e GONCALVES, Maria F. Currículo e desenvolvimento curricular: problemas e perspectivas. Edições Asa, Porto,1991.302p.

MAE. Perfil do Desenvolvimento do Distrito de Mandlakazi - Província de Gaza. Maputo,2005.44p.
MATOS, Leonor Correia de. Origens do povo chope segundo tradição oral. Lourenço Marques, 1973. 101p
PACHECO, José Augusto. Currículo: Teoria e Praxi. Porto,2001.271p.
RITA – Ferreira, A. pequena História de Moçambique pré – colonial. Lourenço Marques, 1975. 84p.
SIQUISSE, Alípio E.P. Estudo de elementos sócio-culturais e económicos dos Vatswas em Inhambane: um subsidio etno-histórico para o ensino básico.S.Paulo,2006.124p.
SOUTO, Amélia Neves de. Guia bibliográfica para o estudante de História de Moçambique. 1996, 347p



O Impacto das Tecnologias de Informação e Comunicação na Educação

domingo, 18 de abril de 2010 by Fernando Marcos Nhantumbo | 0 comentários
Uma reflexão didáctica no ensino de História
Por:
Fernando Marcos Nhantumbo
(Mestrando em Educação/Ensino de História)
(Universidade Pedagógica-Maputo)
Resumo

A demanda de novas tecnologias de informação e comunicação leva todas as sociedades a partilhar e difundir conhecimentos,de modo que, no processo multicultural, o ensino e a aprendizagem não dependem apenas das instituições da educação. De forma breve debatemos neste artigo, o paradigma das didácticas na era tecnológica, já de forma directa exigem a redefinição do papel do professor e do aluno e até da forma de aceder ao saber. Os audiovisuais no ensino História de forma virtual torna o seu ensino eficiente e colocam o mundo no espaço de aprendizagem.

Summary

The demand for new information and communication technologies leads all companies to share and disseminate knowledge, so that in the case of multicultural education and learning depends not only
on educational institutions. Briefly discussed in this article, the paradigm of didactical in the technological age, already require redefining the role of teacher and student and even have access to knowledge. The audiovisual teaching History so virtual makes your effective teaching and put the world in the learning space.

As TIC’s: Novos Paradigmas Didácticos na Relação Professor - Aluno

Com a emergência de novos tratados de artes - as tecnologias, as sociedades sofrem de forma continuada as influências que essas tecnologias polarizam na difusão e partilha de informações. O presente artigo pretende discutir a seguinte questão: Que paradigmas didácticos vão surgir no processo de ensino-aprendizagem com a modernização das tecnologias de informação e comunicação?Esta inquietação legitima-se na medida em que segundo Masetto (2003) os alunos sempre dispõem de novas informações disponíveis nos inúmeros sites da internet, o ensino superior obriga – se a dialogar com outras fontes de conhecimento e pesquisa, como parceiros e o conhecimento pode ser socializado por outras organizações (p.13-14).


Devemos repensar no papel do professor porque as novas tecnologias são fontes de atracção para estudantes porque superam exposição oral do professor. As imagens apresentam experiências bem próximas da realidade e segundo Gil (1997)…servem para despertar atenção, favorecem apresentações organizadas…servem para emprestar carácter moderno ao ensino (p.96-97).
Num debate exaustivo, sendo as novas tecnologias mais uma ferramenta, atribuiríamos ao professor, o papel de motivador e facilitador. O desafio imposto ao professor na nova era, tem a ver com a arte de ensinar, as metodologias e as pedagogias, porque sem querermos levantar uma outra inquietação, devem ter outro tratamento enquanto novas ferramentas, importa discutirmos a relação entre o professor e estas.O aluno no contexto das tecnologias assume nova postura com pesquisas autónomas, intercomunicação com todo o mundo, construção do conhecimento e partilha de informações?


No caso de ensino de História, os audiovisuais assumem o papel primordial visto que , segundo Proença (1989)…ao colocarem a imagem conferem uma reprodução do real e suscita uma marcha indutiva que parte da experiência para chegar ao principio teórico…(p.129)
Partindo deste ponto de vista, logicamente as novas tecnologias no ensino de História quebram fronteiras, de forma virtual favorecem debates, construção e debate de conhecimento produzido em
diferentes partes do Mundo. O professor deverá ocupar de forma democrática o seu papel, orientando os alunos na reconstrução colectiva do conhecimento como corolário do aumento da participação dos alunos na aprendizagem.


Conclusão
Podemos concluir que com a evolução das novas tecnologias, as abordagens didácticas do processo de ensino-aprendizagem, exigem revisão do relacionamento dos sujeitos intervenientes neste processo, para que as tecnologias não se tornem técnicas mecânicas à disposição do ensino.
As tecnologias de informação e comunicação são importantes no caso de ensino de História e não só, porque encurtam distâncias, favorecem a pesquisa, a critica e a reflexão durante a difusão e partilha de informações.
Bibliografia consultada
Gil, António Carlos. Metodologia do Ensino Superior.S.Paulo,1997.121p.
Masetto, Marcos Tarciso. Competência Pedagógica do Professor Universitário. S.Paulo-Summus, 2003.194p.
Proença, Cândida Maria. Didáctica de Historia.Lisboa,1989.227p.


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